terça-feira, 14 de julho de 2015

Triste Fim de Policarpo Quaresma

"Um violão em casa tão respeitável! Qual será o motivo?"

A frase acima pode parecer estranha até, mas no Brasil do escritor Lima Barreto, não era. A associação entre o violão e o vagabundo/marginal era um forte preconceito da época. Esse é apenas um dos traços da sociedade brasileira que Lima Barreto retrata em sua obra Triste Fim de Policarpo Quaresma. Mas esses preconceitos existiam só naquela época ou eles persistem até hoje?






Sinopse:


"Triste fim de Policarpo Quaresma - Nesta história fascinante, você acompanhará a dolorosa trajetória de um patriota ingênuo e idealista, disposto a qualquer sacrifício pela grandeza de seu país. A realidade, porém, o envolve de tal modo que ele acaba aprendendo, à custa da própria vida, que a pátria sonhada não coincide com a pátria real, que os dirigentes não estão preocupados com o bem do povo mas apenas com seus próprios interesses, usando os cargos públicos para a realização de seus senhos pessoais de poder e fortuna. Felizmente, isso só acontecia antigamente, no Brasil, não é? Hoje, felizmente, nossos políticos não são mais corruptos, não governam mais em seu próprio interesse... Felizmente, hoje, nossos políticos só pensam no bem do povo e não medem sacrifícios pessoais para promover o bem-estar da população... você não acha?"



Triste Fim de Policarpo Quaresma se passe no Rio de Janeiro, no Brasil governado por Floriano Peixoto (1894, por aí). E qual o enredo da história? Bem, a narrativa se foca na trajetória de Policarpo Quaresma, que, como o título nos faz perceber, não teve um fim muito feliz.

Policarpo é um homem simples que mora com a irmã nos subúrbios do Rio. Funcionário público, não é formado e é muito metódico. Sai e volta para casa, todos os dias úteis, no mesmo horário. Seu principal passatempo é ler em sua biblioteca, e ele também é estimado e respeitado pelos vizinhos.

Mas então... o que faz um violeiro (tocador de violão) na casa de um homem como Policarpo Quaresma? A curiosidade e descrença dos vizinhos são palpáveis. O violão era considerado um instrumento dos marginais. Contudo, Quaresma queria aprender a tocá-lo. Por quê? Aqui chegamos a uma característica marcante em Policarpo Quaresma: o patriotismo. Não que ser patriota seja algo ruim, mas Policarpo é um patriota extremo. Não come nem veste nada que não seja genuinamente brasileiro; busca conhecer mais e mais sobre a história e cultura do Brasil e defende sempre o país em toda e qualquer discussão, chegando ao exagero.

E o que o violão tem a ver com isso? Bem, depois de diversos estudos e pesquisas, Quaresma chegou a conclusão de que o violão e as modinhas eram a maior representação da música nacional e assim sendo, ele decide que aprenderá a tocar violão.

A princípio, as pessoas que convivem com Policarpo veem essa atitude inusitada como apenas um capricho. Só que Quaresma não para por aí. Em seu próximo "ato em favor da pátria brasileira", ele quer mudar o idioma oficial do país para a língua Tupi-Guarani!


"Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer censuras ásperas dos proprietários da língua [...] - usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro."


A história se segue e as atitudes de Policarpo fazem com que ele seja visto como um louco. E para a sociedade da época, ser louco era pior do que morrer. Aqui, vale ressaltar um ponto interessante sobre o autor: o próprio Lima Barreto foi tachado de louco e internado em um hospício, assim como ocorre com Quaresma. Tendo vivido a mesma situação, o autor sabe narrar com perfeição os pensamentos até das pessoas próximas ao personagem principal. Apesar disso, suas obras foram muito discriminadas devido a linguagem: Lima Barreto escrevia aproximando-se do português usado pelos personagens, que no caso deste livro, são pessoas da classe média, do subúrbio. Isso fez com que a elite de sua época não considerasse suas obras como boa literatura.


"E essa mudança não começa, não se sente quando começa e quase nunca acaba. Com o seu padrinho, como fora? A princípio, aquele requerimento... mas que era aquilo? Um capricho, uma fantasia, coisa sem importância, uma ideia de velho sem consequência. Depois, aquele ofício? Não tinha importância, uma simples distração, coisa que acontece a cada passo... E enfim? A loucura declarada, a torva e irônica loucura que nos tira a nossa alma e põe uma outra, que nos rebaixa..."


E o que acontece depois com Policarpo Quaresma? Bem, nosso patriota ainda fará outras empreitadas em busca do seu Brasil utópico, mas se você quiser saber mais dessas empreitadas ou descobrir no quê tudo isso vai dar, leia o livro!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião, dê ideias, sugestões, ou só diga qualquer coisa mesmo kkk ^-^
Caso encontre alguma coisa errada e queria corrigir, sinta-se a vontade :)
Só queremos pedir pra que não usem palavrões, nem insultem ninguém por meio dos comentários ;)